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A exposição compreende todos os períodos da produção artística de Odetto Guersoni em papel, desde a década de 1940 até a atualidade. Com 54 gravuras, a mostra apresenta todas as técnicas por ele utilizadas sobre papel – calcografia, litografia, xilogravuras, pochoir, monotipia, além das duas contribuições por ele elaboradas: a filigrafia e a plastigrafia. São obras pertencentes ao acervo da Pinacoteca do Estado, sendo a maior parte proveniente da recente doação realizada pelo artista, numa significativa seleção de exemplares de sua trajetória no mundo de infinitas possibilidades da gravura.
Curadoria de Ana Paula Nascimento. Projeto expográfico de Haron Cohen.
Abertura dia 30 de junho, sábado, das 11 às 14h. Em cartaz até 30 de setembro de 2007
Odetto Guersoni no Gabinete de Gravura Guita e José Mindlin
Odetto Guersoni, filho de imigrantes italianos, nasceu em Jaboticabal, São Paulo, em 1924. Muda-se ainda criança para a cidade de Monte Alto, também no interior paulista, onde realiza os estudos básicos. Aos 17 anos, passa a residir sozinho na capital do Estado, buscando aprendizado artístico. Estuda no Liceu de Artes e Ofícios de 1941 a 1945, formando-se em pintura e artes decorativas. Naquele mesmo ano, começa a lecionar artes gráficas no Serviço Nacional da Indústria – Senai, onde trabalha por quase trinta anos. Participa no período do Sindicato dos Artistas Plásticos, importante órgão a congregar os artistas daquela época.
Ainda que conhecido muito mais pelo conjunto de sua produção gráfica, num primeiro momento realiza pinturas que, como de muitos outros colegas de geração, tem certa afinidade com a técnica e colorido impressionista, passando em seguida a realizar pinturas com acento expressionista, mas atenuado pelo colorido e pelas locações urbanas – como a Ponte das Bandeiras – ou temas escolhidos, como nos retratos de familiares e amigos. É o momento em que Guersoni se aproxima do Grupo Santa Helena, especialmente de Mário Zanini, que o incentiva e o orienta em seu próprio ateliê. Em 1947 participa da exposição do Grupo dos 19, importante evento do período, que exibe pela primeira vez um grande conjunto jovens artistas, como o próprio Guersoni, Marcello Grassmann, Flávio-Shiró, Maria Leontina, Aldemir Martins, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Mário Gruber e Otávio Araújo, entre outros. No ano seguinte, obtém bolsa de estudo do Governo Francês, o que possibilita que estude por um breve período em Paris: pintura na Academie de la Grande Chaumière e artes gráficas, artísticas e industriais na École Superieur d´Art Graphique Estienne, momento em que descobre a gravura e amplia sensivelmente seus horizontes. Estuda todas as técnicas de gravura – inicialmente a calcogravura (gravura em metal), depois a litografia e a xilogravura – que se convertem em seu principal meio de expressão artística, mesmo que naquele período ainda se dedicasse predominantemente à pintura.
Regressa a São Paulo no ano seguinte, participando da Oficina de Arte (ODA), que tinha como principal objetivo a organização de um centro de trabalho voltado para as artes aplicadas, projeto cujo principal responsável foi o arquiteto Rino Levi. Ainda no final da década de 1940 e começo da seguinte – como tantos outros artistas da sua geração, especialmente de São Paulo –, a partir da abertura do Museu de Arte de São Paulo [1947], do Museu de Arte Moderna de São Paulo [1948] e da 1ª Bienal de São Paulo [1951], se aproxima do abstracionismo, ao qual retorna, de maneira renovada, na década de 1960.
Em 1954, faz uma nova viagem de estudos, com o auxílio do Bureau International du Travail e do Senai, para a França e também para Genebra; no retorno, passa a se dedicar exclusivamente à gravura. É o período em que o artista adquire interesse pelas temáticas da cultura afro-brasileira. É nessa década que cria com Aldo Bonadei a filigrafia, que consiste na utilização de fios de lã costurados na matriz, em um suporte duro, permitindo a impressão de relevos.
No início da década de 1960, realiza estágio em Nova Iorque, período em que inicia pesquisa de formas abstratas mais livres, fortemente marcadas pelo gesto. Nessa fase mais gestual, cria outra técnica, a plastigrafia, em que uma matriz é recoberta por gesso, argila ou alvaiade, formando uma superfície pastosa para depois ser debastada ou arranhada, permitindo gestos rápidos e incisões livres com diferentes objetos. É um período em que o artista busca imagens do inconsciente, resultando em ideogramas e sugestões simbólicas. Em meados dessa mesma década, retorna ao expressionismo, dentro de estruturais mais rígidas e construídas, definindo-se especialmente pela xilogravura. E, entre 1968 e 1978, abandona completamente a figuração, optando por uma concepção puramente gráfica, denominada pelo próprio artista de “justaposição” (como em Formas justapostas XCVIII, de 1975), que se resume na repetição, em estruturas geométricas, de um módulo/matriz gravada. Inicia ainda no período a série “mandala”, de gravuras realizadas a partir da multiplicação geométrica dentro de um círculo; nesta fase, concebe ainda as gravuras-objetos (aplicação da gravura sobre suportes ondulados, côncavos e convexos e aplicações em relevo de vários planos ou com dobras em vários sentidos, que se transformam muitas vezes em gravuras-objetos; executa ainda gravuras painéis para grandes espaços, de colorido bastante acentuado.
No final da década de 1970, retoma o estudo das estruturas e concepções simbólicas e emblemáticas, mas em continuidade com o caráter abstrato-geométrico e gráfico de sua produção. É uma fase em que trabalha especialmente com os variantes de preto e cinzas, cores rebaixadas e superposição de transparências. No início da década seguinte, volta a empregar composições com estruturas mais rígidas, buscando, na bidimensionalidade, a ilusão óptica da terceira dimensão, alinhadas ao Optical Art. De 1982 a 1986, retorna ao conceito das gravuras-objetos expandindo-as para a tridimensionalidade, fase em que cria esculturas em metal, laminado plástico e acrílicos transparentes, sempre utilizando o léxico da rica linguagem geométrica que caracteriza a sua produção de gravuras desde o final da década de 1960. No final desse decênio e início do seguinte, alguns trabalhos apresentam um certa figuração, sugerindo formas vegetais e imagens rupestres. É ainda o período em que alia, em estruturas semelhantes às mandalas, os signos do zodíaco.
Na década de 1990 retoma a pintura sem, contudo, diminuir a dedicação à gravura. Em 1993 realiza uma série de montagens, com módulos contínuos e alternados, utilizando antigas e variadas gravuras de sua autoria. Prossegue na produção e pesquisa de diferentes séries e ainda das “xilomodulares”, em que as impressões das matrizes são organizadas e coladas sobre outro suporte.
Além de artista de múltiplas habilidades, Odetto Guersoni teve importante papel como professor e faz parte do Conselho de Orientação Artística da Pinacoteca do Estado de São Paulo há 18 anos.
Realizou muitas exposições individuais (mais de 55, sendo 16 no exterior), com destaque para retrospectiva realizada na própria Pinacoteca do Estado em 1994, com curadoria de José Roberto Teixeira Leite: “Guersoni: 50 anos do percurso do artista – 1944/1994”. Participou de 10 Bienais nacionais, têm diversos prêmios, no Brasil e no exterior, integrou dezenas de mostras coletivas, nacionais e internacionais. Importantes museus nacionais (entre outros, Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Museu de Arte de São Paulo; Museu de Arte Moderna da Bahia; Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro) e estrangeiros (entre outros, Museu de Arte Moderna de Tóquio, Japão; Museu de Arte Contemporânea da América Latina, Washington, D.C.; Museu de Arte Contemporânea de Skopje, Iugoslávia; Museu de Gravuras, Buenos Aires, Argentina; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; Museu de Arte Contemporânea do Porto, Portugal) possuem obras de Odetto Guersoni em seus acervos.
Estação Pinacoteca - Largo General Osório, 66 – fone 11 3337 0185 Aberta de terça a domingo, das 10 às 18h. R$ 4,00 e R$ 2,00 (meia). Grátis aos sábados